Quando falamos sobre o surgimento da lâmpada, há quem imagine que Thomas Edison simplesmente descobriu o que hoje é indispensável no nosso dia a dia. A verdade nem sempre lembrada é que Edison tinha mais de 2 mil invenções patenteadas e incontáveis tentativas frustradas no currículo.
E, quando vamos viajar em um avião, até nos lembramos de Santos Dumont, mas nem sempre sabemos das tentativas (e inúmeras falhas!) que começaram com voos de balões até que o 14-Bis saísse do chão.
As inovações funcionam dessa maneira, partindo de um grande processo de tentativas, erros e experimentação.
E de que modo chegamos a um resultado que traduz a inovação? Como o mindset inovador consegue produzir resultados inovadores? Por meio de que processo?
Agora, vamos começar a discutir esse comportamento do Mindset Inovador e suas competências. O que faz com que o momento de descoberta seja tão importante para gerar inovação e o fundamental: como isso acontece na prática?
É o que vamos contar agora.
É sempre importante defender que o conceito de inovação deve ser, ele mesmo, inovador.
O foco de quem tem um mindset inovador deve ser menos na inovação radical e mais em melhorias contínuas e incrementais. É preciso olhar para a criação de soluções que gerem valor real e que possam transformar a realidade positivamente.
Também vale lembrar que inovar não é só ter uma boa ideia.
Esteja sempre atento que a inovação precisa ser tangível, de forma que uma ideia não executada, no fim das contas, não consegue transformar nada.
É com isso em mente que devemos pensar na inovação como um processo que une descoberta e execução.
A descoberta está ligada a uma característica bem especial das pessoas inovadoras.
Professores e pesquisadores da Harvard Business Review realizaram um estudo específico sobre o tema. O resultado é um compilado de cinco características de descoberta que compõem o que eles chamam de “DNA do inovador”.
Agora, vamos falar sobre cada uma delas.
Associar, ou a capacidade de conectar questões, problemas ou ideias aparentemente não relacionadas de diferentes campos, é uma parte crucial do mindset inovador.
O cérebro não armazena informações como um dicionário, onde você pode encontrar a palavra “cinema” abaixo da letra “C”. Nossa mente não é simplesmente um banco de dados para armazenamento e consulta.
Em vez disso, o cérebro associa a palavra “teatro” a qualquer número de experiências de nossa vida.
Tais associações podem ser lógicas, como a pipoca, a diversão, a emoção. Outras, menos óbvias, como a ansiedade causada por pessoas barulhentas durante um filme.
Quanto mais diversificada for nossa experiência e conhecimento, mais conexões o cérebro pode fazer. Como Steve Jobs citou: “Criatividade é conectar coisas”.
Para seu dia a dia como pessoa inovadora, exercite a associação. O que você pode fazer é:
Descobrir novas oportunidades para inovar também passa pelo networking.
Essa habilidade envolve dedicar tempo e energia visando encontrar e testar ideias por meio de uma rede de pessoas.
No mindset inovador, o networking não é usado como muitos profissionais o fazem: para se vender e impulsionar suas carreiras.
Os empreendedores inovadores se esforçam para encontrar pessoas com diferentes tipos de ideias e perspectivas buscando ampliar os próprios domínios de conhecimento. Para tanto, fazem um esforço consciente para visitar lugares diferentes, explorar novas culturas e conhecer pessoas de outras esferas da vida.
Quantas vezes você já assistiu a uma apresentação, a uma palestra ou a qualquer explicação que terminou com uma frase clássica:
Muitas vezes, diante dessa questão, tendemos a evitar fazer perguntas porque não achamos que seja um convite aberto para questionar de fato. Outras vezes, porém, você pode ter perguntas reais – sobre por que razão as coisas são do jeito que são e como podem ser diferentes – mas você não as pergunta.
Como pessoa inovadora, essas duas situações não são o que se deve buscar.
Uma sala cheia de pessoas inovadoras usaria esse momento para criar e compartilhar perguntas instigantes.
Por quê? Porque questionar é como eles fazem seu trabalho. O questionamento não só faz parte do DNA da pessoa inovadora, como frequentemente age como o catalisador criativo para os outros comportamentos de descoberta. Questionar leva ao networking e à associação, a partir das respostas que você pode receber e das conclusões que surgirem com base nisso.
Muitos negócios bem-sucedidos, e que conhecemos de perto, nasceram de questionamentos em torno de uma prática. Algo acontece de determinada forma e essa forma gera questionamentos importantes sobre o que motiva esse funcionamento.
Essa habilidade de descoberta pode ser vista, por exemplo, no caso da Nubank.
A Nubank, desde que surgiu no mercado, posiciona-se tendo em vista uma questão importante: por que você pagaria por um cartão de crédito ou por uma conta? Na prática, o cenário comum é que as pessoas são clientes de bancos e pagam por cada um dos serviços que eles oferecem.
A solução que a empresa oferece são esses dois tipos de serviços totalmente gratuitos, quebrando o paradigma das diversas taxas praticadas pelos bancos tradicionais.
O resultado foi um modelo de negócio que mudou bastante o cenário dos serviços financeiros do Brasil. E tudo começou com um questionamento.
Na prática, no dia a dia do trabalho, os inovadores procuram cuidadosa e consistentemente pequenos detalhes comportamentais nas atividades de clientes, de fornecedores e de outras empresas a fim de obter insights sobre novas maneiras de fazer as coisas.
Cultive o hábito de prestar atenção ao mundo à sua volta, incluindo colegas, produtos, serviços e tecnologias.
No fim da década de 2000, o empresário Ratan Tata ganhou incontáveis manchetes por desenvolver o carro mais barato do mundo. A ideia é clara: um veículo que atendia às pessoas por um preço nunca antes visto.
A raiz desse produto inovador foi a observação.
Essa foi a inspiração que o levou ao carro mais barato do mundo, isto é, ao observar a situação de uma família de quatro pessoas embalada em uma única scooter motorizada.
Quando pensamos em experimentos, imaginamos cientistas de jaleco branco ou grandes inventores como Thomas Edison.
Assim como esses cientistas clássicos (e imaginários), as pessoas inovadoras experimentam ativamente novas ideias criando protótipos e lançando pilotos.
Ao contrário dos observadores, que examinam intensamente o mundo, os experimentadores constroem experiências interativas e tentam provocar respostas não ortodoxas para ver que percepções emergem. O mindset inovador, como você viu até aqui, passa pelas duas coisas! Observe, mas também experimente. Use seu conhecimento para criar hipóteses, que viram protótipos, que são testados e validados.
Em um exercício prático, você pode pensar na proposta muitas vezes usada por startups: o MVP.O
MVP, traduzido como Mínimo Produto Viável, foi criado e popularizado por Steve Blank e Eric Ries, no início dos anos 2000, para definir a mínima versão de um produto que tem capacidade suficiente para ser usado pelas primeiras pessoas. O MVP é uma versão inicial da solução de um problema, que atende inicialmente à questão principal, mas que existe para experimentar, testar e colher feedback para o seu desenvolvimento.
Deseja quebrar a rotina e estimular as suas habilidades de descoberta? Tente fazer os exercícios abaixo e veja o resultado!
O objetivo deste exercício é fazer a criatividade fluir. Afinal, criatividade impulsiona as ideias inovadoras!
“10 ideias em 10 minutos” coloca muito estresse no uso de restrições criativas e em levar as ideias ao seu melhor. Este é um exercício baseado em problemas, que pode ser adaptado de várias maneiras – usado como um brainstorm com a finalidade de encontrar soluções para um problema real ou como um aquecimento em um cenário fictício. O objetivo é apresentar soluções diferenciadas e aumentar o potencial de inovação. Vamos começar?
PAPEL E CANETA
SOLO OU GRUPOS DE QUALQUER TAMANHO
10 MINUTOS + EXTRA PARA APRESENTAÇÃO
Forme equipes em grupos de 2 ou 3 pessoas, se não for trabalhar sozinho. Pegue algo para anotar.Em 10 minutos, elabore PELO MENOS 10 ideias do que poderia ser a solução do problema. Deixe as ideias fluírem; quanto mais, melhor. Se você estiver em uma equipe, tente desenvolver as ideias uns dos outros. Importante: nenhum julgamento é permitido, visto que todas as ideias são bem-vindas.
Quando o tempo acabar, escolha uma ideia por grupo e apresente-a aos outros.
Você já teve um diário quando criança ou adolescente?
Diários não servem apenas para desabafar, mas também para registrar o que se passa na mente em determinado momento, para analisar depois e avaliar o crescimento. Ao escrever, você sintetiza melhor as suas ideias. Assim, organiza os pensamentos e, quando precisar de inspiração, recorre a eles!
UM DIÁRIO FÍSICO OU DIGITAL, COMO PREFERIR
VOCÊ MESMO, SOZINHO
5 MINUTOS POR DIA
Tire 5 minutos para registrar ideias, notas e reflexões que você teve ao longo do dia. Vale anotar soluções para problemas que você tem, hipóteses para resolver qualquer ponto da sua vida ou do trabalho ou até novas ideias de negócio. Escreva de forma organizada, a fim de que você consiga voltar até os registros posteriormente e aprender com eles. Assim, você estará gerando insights importantes para quando enfrentar alguma situação que requeira um mindset inovador. O exercício também pode ser sugerido para uma equipe e uma empresa. Se quiser, vocês podem até compartilhar os diários e debater as ideias contidas em cada um.
O SCAMPER é uma técnica de brainstorming de equipe usada para desenvolver ou melhorar produtos ou serviços. SCAMPER é um acrônimo para:
Substituir: O que pode ser substituído no produto, modelo, serviço ou ideia existente? (por exemplo, componentes, materiais, pessoas)
Combinar: O que pode ser combinado para gerar algo novo?
Adaptar: O que pode ser adicionado e adaptado para tornar a ideia ainda melhor?
Modificar, ampliar, maximizar, minimizar: O que pode ser modificado? (por exemplo, altere tamanho, forma, cor ou outro atributo)
Pensar em outros usos: Você poderia colocar o produto para uso diferente ou em outro setor?
Eliminar ou minimize: O que pode ser removido ou simplificado?
Reverter e rearranjar: O que aconteceria se você revertesse o processo de produção do produto? O que pode ser trocado ou invertido?
SCAMPER é realmente fácil de usar.
Primeiro, pegue um produto ou serviço existente. Pode ser aquele que você deseja melhorar, com o qual está tendo problemas, ou um que você acha que pode ser um bom ponto de partida para um desenvolvimento futuro.
Em seguida, faça perguntas sobre o produto que identificou, usando as letras do acrônimo como orientação. Pense no máximo de perguntas e de respostas que você puder.
Finalmente, veja as respostas que você encontrou. Alguma delas se destaca como solução viável? Você poderia usar alguns deles para criar outro produto ou desenvolver um existente? Se alguma de suas ideias parecer viável, você pode explorá-la mais a fundo.
UM LUGAR PARA REGISTRAR TODAS AS IDEIAS
TODAS AS PESSOAS ENVOLVIDAS EM DETERMINADO PROJETO
O TEMPO QUE JULGAR NECESSÁRIO PARA DISCUTIR TODAS AS QUESTÕES LEVANTADAS
Uma ótima maneira de começar a implementar o SCAMPER é fazer um jogo de aquecimento com ele. Pegue alguns objetos aleatórios: um chapéu engraçado, um cinto, uma cadeira, alguns itens de artesanato, etc. Reúna sua equipe em uma sala e jogue os objetos no chão (ou se virtual, mostre-os na câmera). Faça-os começar a fazer perguntas com base no SCAMPER.
Agora experimente em seu projeto real! Pegue um produto, um aspecto de um produto ou um processo e execute-o por meio do SCAMPER. As respostas provavelmente serão diversas e normalmente incluirão ideias que não são práticas, não se ajustam ou até mesmo são tolas. Tudo bem e muito bom! O objetivo é gerar o máximo de ideias possível, e, muitas vezes, as ideias mais brilhantes podem surgir delas.
A ideia de cada um dos exercícios acima é passar por características que levem à inovação, como a criatividade, a ideação e a criação de hipóteses que podem sugerir novas soluções. Todos eles, cada um à sua maneira, podem ser um ponto de partida para levar você a criar novos hábitos e a pensar de forma diferente. Quebrar a rotina viciada é isto: é encontrar novas formas de pensar, de enxergar situações e, claro, de trabalhar.