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ESG

ESG e Capitalismo Consciente com Denise Baumgratz

Para falar sobre Capitalismo Consciente, convidamos Denise Baumgratz - mentora e colíder da Filial Regional do Capitalismo Consciente em Belo Horizonte.

ESG e Capitalismo Consciente

A pauta do ESG (traduzido do inglês - Meio Ambiente, Social e Governança) surgiu como uma forma de se mensurar o quanto as ações mais sustentáveis podem contribuir para o crescimento econômico das empresas e está bastante em alta. O conceito encontra fundamento no Capitalismo Consciente, isto é, na ideia de que a lucratividade e as pautas sustentáveis podem caminhar lado a lado.E, para falar sobre Capitalismo Consciente, convidamos Denise Baumgratz - economista, especialista em Gestão Estratégica de Negócios, mentora e colíder da Filial Regional do Capitalismo Consciente em Belo Horizonte.

1 - Como surgiu essa discussão no mundo e no Brasil?

O Capitalismo Consciente é uma forma de pensar o negócio com mais consciência sobre o seu papel na sociedade. É um movimento global que surgiu nos Estados Unidos com base em uma pesquisa que buscava entender por que algumas empresas eram tão amadas mesmo gastando pouco com publicidade e marketing. A descoberta foi que essas empresas faziam uma gestão humanizada. Ao colocarem as pessoas no centro e estreitarem os laços com seus stakeholders (partes interessadas) - clientes, fornecedores, parceiros, colaboradores, investidores e comunidade - criavam mais valor e performavam melhor do que seus pares setoriais. A pesquisa evoluiu então para o livro “Empresas Humanizadas”, de R. Sisodia, J. Sheth e D. Wolfe, lançado em 2007, e criou as bases do movimento Capitalismo Consciente.Quando então as descobertas chegaram às mãos do empresário John Mackey, CEO da Whole Foods, uma rede de supermercado de produtos minimamente processados (depois comprada pela Amazon), ele identificou muitas de suas práticas descritas ali. Juntando teoria e prática, Mackey e Sisodia lançaram, em 2012, o livro “Capitalismo Consciente. Como libertar o espírito heroico dos negócios”, no qual apresentavam uma nova maneira de pensar os negócios, propondo uma correção de rota para criar um ambiente propício para a criatividade, o empreendedorismo, a inovação e o bem-estar geral. Os empreendedores são considerados os grandes “heróis” dessa jornada, visto serem indutores das mudanças que levam ao progresso, apesar de todas as adversidades.Em 2013, um grupo de empresários brasileiros conheceu o movimento nos EUA e se sensibilizou sobre a importância da mudança de cultura dos negócios por aqui, fundando o Instituto Capitalismo Consciente Brasil, organização sem fins lucrativos. Em 2023, o ICCB completará 10 anos de Brasil.

2 - Quais as principais vantagens para as empresas que têm o Capitalismo Consciente como uma proposta de valor?

As empresas que partilham dos princípios do Capitalismo Consciente colocam o ser humano no centro da decisão e, por isso, são mais empáticas. Ao construírem relacionamentos mais saudáveis, estimulam a abertura, a colaboração e, por consequência, a inovação e o empreendedorismo. Valores compartilhados e um senso de propósito comum aumentam os níveis de confiança, o bem-estar organizacional e destravam um potencial latente, escondido nos elos da cadeia, que torna a empresa mais ágil e inovadora. Como consequência, colhem melhores resultados ao longo do tempo. Mas atenção: os resultados vêm depois da geração de valor real, e não o contrário. A questão é que isso não se dá da noite para o dia. Quem planta hoje para colher imediatamente amanhã ficará frustrado, pois o amadurecimento se faz necessário. Mas não seria esse o objetivo de qualquer organização, criar as bases para prosperar no longo prazo?

3 - Quais seriam os primeiros passos para implementar práticas de Capitalismo Consciente?

O primeiro passo é estar aberto à visão de que as empresas são uma forma de contribuir para o bem-estar da sociedade e a preservação do planeta. Elas não existem apenas para gerar lucro para os donos, assim como o ser humano não existe só para comer. Há um propósito maior, evolutivo, uma diferença que se pode fazer no mundo. Numa organização, a liderança, quem está à frente do negócio, é responsável por identificar esse impacto positivo e trazê-lo tanto para dentro, para as práticas, os processos e as estratégias, como levá-lo para fora, conectando-o às pessoas do entorno (stakeholders). Assim, cria-se uma cultura consciente, orientada para a geração de valor compartilhado.Estes são os quatro pilares do Capitalismo Consciente: propósito maior, liderança consciente, cultura consciente e orientação para stakeholders. Para conhecer mais sobre cada um deles, acesse www.ccbrasil.cc. Além dos diversos conteúdos virtuais, estamos presentes em São Paulo e em 11 regiões do Brasil (BH inclusive), e podemos apoiar a sua jornada.

4 - Temos exemplos de grandes marcas que já são adeptas do Capitalismo Consciente?

Temos desde grandes marcas associadas, como Reserva, Petz, Ypê, Ifood, Klabin, SAP, Gerdau, Movida, entre outras, a micro e pequenos negócios, pois consciência organizacional é para todos, independentemente do porte e do setor de atuação.

5 – Falando um pouco mais sobre o ESG, essa é uma tendência forte no mercado brasileiro, como o Capitalismo Consciente pode contribuir para que as marcas caminhem rumo às métricas de ESG?

O Capitalismo Consciente é o solo fértil que permite que os princípios ESG floresçam. Ao trabalhar os quatro pilares (propósito maior, liderança consciente, cultura organizacional e orientação para stakeholders) criam-se as bases para que o ESG aconteça. No “E” do ESG está o meio ambiente, um stakeholder silencioso que precisa ser reconhecido e cuidado. No “S” está a consideração pelas pessoas, justamente o fator que deu origem ao movimento, e no “G”, não apenas normas, mas sobretudo o comportamento ético voluntário das culturas organizacionais. E quem vai implantar a agenda ESG? A liderança, guiada por um propósito maior, que não olha só para si, mas também para as gerações futuras. Embasado pelos princípios do Capitalismo Consciente, o ESG pode então cumprir seu papel de zelar pela prosperidade de longo prazo das organizações.

6 - Pensando na ótica do cliente, quais os principais diferenciais que uma marca poderá gerar com o Capitalismo Consciente?

Embora os clientes sejam tidos como prioritários, muitas vezes são vistos apenas como um meio para obtenção de um fim, o lucro da empresa. É uma visão utilitária, e não servidora. Empresas pautadas pelos pilares do Capitalismo Consciente servem melhor seus clientes, pois, ao terem um nível mais elevado de empatia, entendem melhor suas necessidades. A qualidade dos relacionamentos também impulsiona a agilidade e a inovação, já que deixa a comunicação e o fluxo de trabalho mais fluidos. A colaboração libera um potencial criativo latente que melhora a oferta (mas que não vem à tona em ambientes tóxicos). Como resultado, os clientes são mais bem servidos. Clientes satisfeitos reconhecem e pagam pelo valor criado, deixando os donos também satisfeitos, inclusive para devolverem parte à sociedade e ao meio ambiente através da cidadania corporativa. É um ciclo virtuoso.

7 - O que você recomendaria para os pequenos e os médios empresários que queiram caminhar rumo à implementação de ESG?

A minha principal recomendação para os pequenos e médios empresários é: caminhem em grupo, e não sozinhos. Para isso: 1) Conversem com organizações que já estão inseridas na pauta, como o próprio Sebrae e o Capitalismo Consciente.2) Se já quiserem endereçar questões específicas, procurem iniciativas em curso. Se forem de governança, o IBGC, por exemplo, fez um guia voltado para startups. Para questões socioambientais, o Pacto Global trabalha o engajamento de empresas para o desenvolvimento dos ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU. 3) Entendam quais os principais desafios do seu setor e quais ODSs estão sendo trabalhados por pares setoriais de maior porte, para que sirvam de fonte de inspiração. Essas informações estão ficando cada vez mais transparentes.4) Escolham de um a três ODSs e tragam-nos para dentro das estratégias, dos processos decisórios. ESG é uma agenda de negócios. 5) Busquem ferramentas de autoavaliação para identificar o estágio de maturidade e as prioridades, como a que o ICCB acabou de lançar. Um passo seguinte pode ser buscar uma certificação para o negócio, como a do Sistema B. Mas saibam que, para integrar as agendas estratégicas e de sustentabilidade, é preciso o que, no Capitalismo Consciente, chamamos de “ODS Zero”: a autoconsciência da liderança, que faz com que os objetivos sustentáveis aconteçam. Sem ela, a pauta não anda.

8 - Podemos falar que os negócios locais e os pequenos já estão mais próximos de uma ótica de Capitalismo Consciente?

Com certeza. Os negócios pequenos e locais são uma parte importante das comunidades onde estão inseridos, uma vez que impulsionam a vida econômica e social não só das pessoas, como também de outros negócios. Há uma interdependência. Quando um prospera, os outros também se beneficiam, e essa geração de valor compartilhado é a base do Capitalismo Consciente. Os laços com as pessoas do entorno, os stakeholders, são construídos naturalmente pelos proprietários, o que não ocorre em grandes empresas. Estando mais próximos dos consumidores e da comunidade, os proprietários podem captar as principais tendências de consumo de seus clientes e também influenciar positivamente suas microrregiões e engajar as pessoas em suas ações sustentáveis. Essa proximidade gera um potencial enorme de conscientização e, por consequência, mobilização. Em conjunto, podem tecer uma forma mais responsável de fazer negócios, orientados por um propósito maior. Essa cultura mais consciente passa então a fazer parte do DNA do pequeno negócio, da sua identidade organizacional, o que fortalece sua marca e seu próprio negócio. Fazer o bem faz bem. Esse é um dos objetivos do Capitalismo Consciente.O ESG e o Capitalismo Consciente são tendências a serem observadas, inclusive, para as empresas e startups que buscam por financiamento. Saiba como alinhar a sua empresa a essas práticas.

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