Cultura de Inovação

Conheça a desaprendizagem e aprenda a criar soluções inovadoras de verdade — com Leonardo Pinheiro

Conheça a desaprendizagem e aprenda a criar soluções inovadoras de verdade — com Leonardo Pinheiro

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Você sabia que seu cérebro está acostumado a encontrar as mesmas soluções e precisa ser “treinado” a sair dessa rotina? É o que explica o especialista em gestão estratégica e inovação tecnológica Leonardo Pinheiro. Leonardo também é professor universitário, sócio e diretor de Inovação da empresa de tecnologia Performa IT e atua no Instituto para Negócios Nous, em parceria com o Sebrae.Ele trabalha com capacitação de organizações e as prepara para lidar com as transformações constantes pelas quais passamos. Nessa entrevista, ele nos deu algumas dicas sobre como empresas podem realmente encontrar soluções inovadoras e mostrou como o início de tudo isso é a desaprendizagem.Descubra mais sobre o conceito e como é utilizado na entrevista a seguir:

O que é desaprendizagem?

Primeiro temos que falar sobre como funciona o cérebro. O cérebro humano é uma máquina fantástica, mas tem como função básica economizar energia. Vemos facilmente essa função em processos que a gente demorava para executar antes e que depois ficam mais fáceis. Um exemplo fácil é o carro. Quando aprendemos a dirigir, ficamos sempre preocupados com tudo, com a marcha, o pedal, o retrovisor. O gasto de energia é alto, temos que nos concentrar muito para executar aquela atividade com a qual não estamos acostumados. Depois, de tanto executar aquela ação, o cérebro aprende a automatizar aquela função e, com a experiência, entramos no carro e simplesmente dirigimos. Essa é uma função muito importante do cérebro para que possamos executar as coisas de forma mais rápida. No entanto, no mundo que vivemos hoje, de transformação constante, acaba se tornando um grande risco. Isso porque, da mesma forma que automatizamos essas atividades, também automatizamos as soluções de problemas dentro da nossa organização. O nosso cérebro, quando desafiado com problemas, vai procurar no seu “arquivo de conhecimentos” qual é a solução já executada antes e aplica essa resposta imediatamente.As pessoas que não cultivam momentos no seu dia a dia para viver e provocar novas experiências que criem uma musculatura de raciocínio vão ficar viciadas nesse sistema automático. O problema é que passamos sempre por grandes impactos, como a covid e a guerra, por exemplo, e esses modelos que foram criados no passado não podem ser aplicados hoje.A ideia então é acionar o cérebro que raciocina. Para isso, é preciso exercitá-lo, igual a todo músculo do nosso corpo. Leia também: Growth Hacking: como aplicar na sua empresa

Como podemos aprender a desaprender?

A nossa educação hoje é fruto da Revolução Industrial, onde treinamos cada pessoa para uma parte de um processo grande. Ou seja, temos uma produção que passa por várias fases e cada pessoa é treinada para ter conhecimento sobre uma delas. Mas a educação que precisamos hoje é diferente, e é preciso voltar lá atrás e ensinar às pessoas o método científico de aprendizado. Henry Ford, por exemplo, desenvolveu o processo industrial. Ele resolveu não só o problema de como criar um carro, mas o problema do acesso ao carro — antes, era muito difícil de produzir, muito caro, e ele criou um processo que permitia mais eficiência nessa indústria. Isso revolucionou uma era, e ele fez isso através do método científico, criando hipóteses e testando, olhando os resultados e criando novas hipóteses com maior potencial de dar certo. Então, essa reprogramação é, na verdade, capacitar as pessoas a utilizar o método científico, onde criamos hipóteses, testamos e, com os resultados, aplicamos novos testes. Essa nova revolução que estamos vivendo pede que revisitemos essa forma de pensar. Se não deixarmos de lado o modo repetitivo de pensar, muitas empresas podem sofrer. Um exemplo é a hiperprodutividade que está chegando com a Inteligência Artificial: quem não se adaptar pode ficar para trás.Você também pode gostar: Como se preparar para a economia da inteligência artificial

Como um empreendedor começa a aplicar o conceito de desaprendizagem na própria empresa ou negócio? Qual seria um primeiro passo prático?

A gente utiliza o método científico de aprendizado, onde eu crio hipóteses, faço testes e esses testes me dão resultados positivos ou negativos. Em cima desses resultados, eu tiro conclusões para criar novos testes.O primeiro passo prático é fazer uma reflexão com base nessas perguntas: A forma como lido com desafios no dia a dia é a melhor forma? Existe alguém que também tem esse problema? Como essas pessoas resolvem esse problema? Como eu posso adaptar e aplicar essa técnica na minha empresa?Aí, estabelecemos a hipótese que, por sua vez, vai gerar um teste (que exige investimento baixo para sua execução) e, por fim, vai gerar um resultado. Em cima desse resultado, eu tiro conclusões com dados reais. Então, o primeiro passo é fazer essas perguntas buscando expandir a realidade dele, entender que alguém mais no mundo está passando o mesmo que ele, independente do mercado, e que está resolvendo de forma criativa. A ideia é ir além do próprio setor, pensar na realidade do problema e não só do seu mercado, pois ele pode estar sendo solucionado também em outros setores.O processo é contra intuitivo e vai gerar desconforto. Esse processo vai exigir insights inovadores que vêm de campos do aprendizado que o empreendedor ainda não sabe de onde vem. Com esse raciocínio, o empreendedor vai testar novas soluções não porque ele espera que elas vão gerar resultados, mas sim que vão gerar aprendizado. Essa mudança de chave é muito importante. Com ela, ele vai mudar o padrão de pensamento “ROI” (Retorno Sobre o Investimento) para “LOI” (Aprendizado sobre o Investimento).

E nas empresas, como você tem aplicado isso?

Esse método é possível de ser aplicado em qualquer tipo de empresa, desde as muito pequenas até as que possuem 5, 10 mil colaboradores. Uma das empresas que atendi era de 10 pessoas, o sócio, a esposa e mais 8 colaboradores.O sócio chegou até mim dizendo que iria se separar da esposa e vender a empresa, porque não via saída, não sentia que conseguia fazer nada. Ali, eu pude observar que ele era como muitos empreendedores que cresceram na luta e no suor, executando todos os dias um pouco. O problema é que ele sempre fez tudo sozinho, assumindo toda a responsabilidade.Isso o levou a pensar repetidamente e, segundo ele, quem trabalhava na empresa não conseguia pensar por si só e tomar responsabilidade sobre as tarefas. Expliquei para ele então que as pessoas não se desafiavam a construir soluções porque estavam viciadas no comando e controle dele, sem espaço para testar.Nós então criamos um processo de aprendizagem com os colaboradores, onde a equipe resolvia os problemas do dia a dia, para que ela aprendesse com os testes. Fizemos vários experimentos em ciclos semanais durante três meses. Hoje, a empresa dele fatura 40% a mais e ele mesmo só vai até lá duas vezes por semana. Ou seja, a empresa é conduzida pelos funcionários, com autonomia.Identificou-se com a história? Leia também: Profissionalização da gestão de empresas familiares

Mais algum recado para quem precisa desaprender?

Na dúvida, vai lá e faz. Não espere a motivação chegar para criar uma transformação na sua empresa. Aplique, faça testes, e aprenda com os resultados. A chave é estar disposto a agir e a se movimentar. A ação vai gerar, no mínimo, aprendizado.Quer saber mais sobre como aplicar a inovação na sua empresa? Acesse o nosso acervo de e-books e infográficos com vários manuais e conceitos úteis.